O barco.

Passava-se das 17h, sentada na beira do mar, assistia o melhor por-do-sol da minha vida.
Sozinha. Ao som de Los Hermanos. Cantarolando com o vento.
Ao olhar para o horizonte, avistei um barco pequeno, singelo e instigante.
Parei.
Olhei, olhei. Procurei alguém dentro dele.
É, acho que ele estava tão sozinho quanto eu.
Por alguns minutos deletei tudo ao meu redor.
Deparei-me com estranhas imaginações inerentes da mente humana.
Eu. O barco. O barco. Eu. Somos tão iguais.
Ele: Um pequeno objeto, emerso no mar. Sem destino.
Eu: Uma pequena garota. imersa no mundo. Sem destino.
A maré enchia meus pensamentos, e ela mesma se encarregava de esvazia-lo.
Grandes ondas, inúmeras pedras, fortes ventos, banhistas desvairados.
Percalços de um barco. Percalços de uma vida.
É, o por-do-sol se foi.... Continuo aqui sentada.
Não vejo mais o barco, nem penso mais na vida.
Vivo apenas.
Me afogo no raso.
Dou mergulhos perigosos.
Remo contra corrente.
Mas ao contrario do ingénuo barco, o leme da vida, quem guia sou eu.
.

.

Por Rafaela Ventura
.
.
.

"Penso que cumprir a vida seja simplesmente/ Compreender a marcha e ir tocando em frente"

[ 'Tocando em Frente' , Almir Sater ***ouça!]