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26 novembro, 2009

A Azeitona e o Jambo

Foi quando alguém se aproximou, sorrateiramente e falou:
- 'Te conheço de algum lugar...'
Encostando seu queixo em meu ombro e deixando escapar uma respiração forte, tentadora.
Fiz cara de interrogação, franzi a testa e puxei lá no fundo (bem lá no fundo) da memória aquela voz familiar. Mas ele simplesmente invadiu meus pensamentos sem pedir licença e voltou a usar da sua masculinidade para atordoar meus ouvidos:
- 'Não lembra de mim?'
Como lembrar, se ele mal me deixava olhar em seus olhos?
Estava petrificada, estagnada, numa posição que só me dava a visão lateral de sua blusa azul. Nesse momento, já sentia meu corpo amolecer, além de sua voz me hipnotizar, suas mãos agora já torneavam minha cintura, como se a conhecesse milimetricamente. Com os dedos ele acariciava lentamente a minha blusa de algodão, como se quisesse me acalmar, me tranquilizar. Acho que percebeu meu estado: tenso.
Ele disse algumas meias palavras ainda, mas nessa altura não ouvia mais nada, só queria virar logo e descobrir quem estava a arrepiar meus pêlos, secar a minha boca, embrulhar meu estômago e dar nó na minha garganta.
Virei-me bruscamente, com medo dele me impedir mais uma vez de ver-te. O susto foi tamanho que não pude proferir uma palavra se quer. Essas duas azeitonas que tenho na face, vulgarmente chamadas de olho, ficaram arregaladas. Não era possível! (imaginei) Realmente não era possível. Tanto tempo longe, tanto tempo sem vê-lo, já não reconhecera mais a sua voz que outrora era de menino. Era incrível, como após anos ele ainda mexia tanto comigo.
O conheci quando era tão adolescente, tão bobinha, tão inconsequente, tão nada do que sou hoje. Não imaginava tamanha identificação ainda.
O Carlos, (era assim que ele se chamava) era do tipo 'Sou popular, todos me amam' na época de colégio. E claro, eu era apaixonada por ele, para fazer jus a sua fama. Mas naquele tempo eu ainda preferia jogar bola do que brincar de salada-mista. Passei anos e mais anos sem ver esse garoto. Guardando solitáriamente uma paixão utópica e singela em meu peito.
A ultima vez que eu tinha visto o Carlos em uma festa, ele me disse:
- 'Nossa, como você mudou!'
Na hora não tomei aquilo como elogio. Na verdade não imaginei nada, só conseguia olhar para seus olhos cor de jambo, sem duvida os mais bonitos que já vi..
Outro dia soube que ele estava fora do país fazendo intercâmbio, sempre teve esse espírito aventureiro de querer desbravar a vida em todas as suas extremidades. Vê-lo aqui de novo, foi uma surpresa inenarrável.
- 'Vai fazer o que agora? Vamos comer uma pizza?"
Ele disse ao ver que me faltavam palavras.
Foi a gota d'água, o empurrão na ponta da escada.
Estava apaixonada outra vez.
Pelo mesmo primeiro amor.
Pelo mesmo, Carlos.
.
.
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Por Rafaela Ventura
Da Serie: Diário de 15 anos.

Um comentário:

Anônimo disse...

"E desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais" (Tom e Chico)

Aí fica foda, esses encontros n me fazem bem!